Conversar é o importante
A “ciência científica”, na qual hoje em dia a maioria das pessoas acredita, vem demonstrando aquilo que os filósofos e teólogos já descobriram há muito tempo: o mais importante em qualquer relacionamento é o diálogo (a conversa). Por exemplo, a expressão do famoso físico e matemático, professor da Universidade de Cambridge, Stephen Hawking, incluída em música do “Pink Floyd” - Keep Talking – diz “ por milhões de anos o gênero humano viveu igual aos outros animais, então aconteceu algo que libertou o nosso poder de imaginação: nós aprendemos a conversar”. De fato, o que pode nos fixar numa relação é a capacidade de expressar os pensamentos, não necessariamente concordantes, mas com os “ouvidos do coração abertos”. Cientistas do Instituto de Pesquisas de Relacionamento, em pesquisa apresentada na Associação Americana para Avanços Científicos (em Seattle) demonstraram que para se manter um casamento feliz é necessário saber conversar (que inclui ouvir, escutar, falar e dizer). Embora pareçam sinônimos, ouvir e escutar são interações concorrentes, ou seja, não basta ouvir, já que temos essa capacidade natural, mas também “estar com o coração aberto” e escutar. Sabemos, por exemplo, que ouvimos tudo ao mesmo tempo, mas escutamos o que escolhemos dentre uma gama enorme de sons e ruídos. Na pesquisa feita pelos matemáticos James Murray e Kistin Swanson com o psicólogo John Gottman, conclui-se que pode-se até prever se um relacionamento irá durar, com uma precisão de 94% (altíssima para qualquer pesquisa científica), verificando a capacidade de conversar dos parceiros. Segundo os pesquisadores, as conversas refletem problemas fundamentais de um casal. Na exposição do trabalho afirmaram que "Quando pessoas que vivem um casamento feliz conversam sobre assuntos importantes, eles podem não concordar, mas eles riem, brincam e mostram sinais de afeição porque têm relações emocionais. Mas muita gente não sabe como se relacionar ou como usar senso de humor nessas situações, e isso significa que a maioria das brigas acontece porque falta conexão emocional.” Com um modelo matemático criado por eles, os pesquisadores investigaram mais de 500 casais e, baseado nesse esquema, concluíram que quando um dos parceiros, ou os dois, não está “aberto ao outro” para conversar “o divórcio é inevitável”. O segredo foi quantificar a proporção de interações positivas e negativas durante as conversas. "O que estamos tentando fazer é realmente entender como funcionam as relações amorosas. E assim podemos ajudar as pessoas a construir seus romances e paixões", concluíram os pesquisadores.
De certa forma, em muitas oportunidades de nosso dia-a-dia evitamos a conversa franca, seja porque não queremos ouvir opiniões divergentes, seja porque não queremos expor opiniões diferentes, ou seja por simplesmente não querermos ouvir e escutar nossos próprios pensamentos. Nos refugiamos muitas das vezes nos “fones de ouvido”, nos rádios dos automóveis em volume alto, no som em nossas próprias casas. Fugimos da responsabilidade de escolhermos no leque de sons e ruídos da vida. Há um fenômeno emblemático quando muitas das vezes as pessoas saem em viagem, com a finalidade inicial de espairecer: saem em seus veículos com um som em seu carro, ou em um fone de ouvido no transporte e, quando chegam ao lugar do passeio, em primeiro lugar, seja numa casa de praia, seja numa casa de campo, providenciam imediatamente um volume alto, evitando o contato com o “som da natureza”. Não se ouve os pássaros, o barulho suave das ondas chegando à praia, nem mesmo as pessoas que estão em torno. Voltam do mesmo jeito e, ademais o estresse próprio da viagem, retornam mais cansados ao seu dia-a-dia, podendo ainda ter criado muitas desavenças com os companheiros de passeio. Desse modo, esquecem o fundamental: conversar. Concordo cada vez mais com a antiga frase “A concórdia não é uniformidade de opiniões, mas concordância de vontades” de Tomás de Aquino. Aproveito, então, pra dizer ao leitor que não espero que tenha a mesma opinião quanto a esse texto, mas sim que o tenha lido com o coração, pelo que, desde já, fico muito satisfeito.
Joseph Shafan
Enviado por Joseph Shafan em 10/11/2008
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