Jovens não deveriam morrer (a Luciano Almeida)
Não somente a perplexidade acomete às gentes pela passagem de alguém jovem, porque se acredita, se tem fé, que aos jovens deveria estar aberta a vida, até que pudessem, pelo menos um pouco plenos, terem esmiuçado o mundo. Porque ao jovem cabe instigar, inovar, remoer os nossos ossos mais velhos, para que sejam expurgados nossos estigmas de paradigmas ultrapassados. Aos jovens cabem os neologismos que se tornarão linguagem comum, depois. E que servirão para traduzir uma visão renovada das coisas, dos tempos, dos mundos, até que outros jovens venham sacudir as poeiras que enevoam nossos olhos, nossos pensamentos, nossos atos. Jovens não podem morrer, eu insisto, porque por mais que tenhamos os espíritos embargados pelas nossas pudicícias e, por isso, nos sintamos incomodados de primeiro momento, são salvadores em ressurreições possíveis no resgate dos caminhos que nos reconduzem às verdades. Por isso, e muito mais seria necessário dizer, mas não o consigo, fico triste com a realidade de tua ausência, de teu jovem expressar, dos haicais inovadores, da tua palavra inaudita. Resta-nos, além das memórias, teus versos: “Com cheiro de campo,/ Deixo em teu jardim, à noite/ Um hai-kai romântico!” (haicai de Luciano Almeida, publicado em 09/08/2007, no Recanto das Letras). Lamento e repito: jovens não deveriam morrer!
Joseph Shafan
Enviado por Joseph Shafan em 09/02/2009
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