Joseph Shafan

"Então uma voz se elevou do abismo. Era o grito da Luz"  Visão de Hermes

Textos

CANÇÃO DO EXÍGUO



Minha terra tem sujeiras,
Que até matam o sabiá
As ervas que aqui fumegam
Não fumegam como lá.

Nosso céu tem mais cegueiras,
Nossas ruas têm mais dores,
Nossos bosques inseticidas,
Nossa lida mais odores.

Em chorar, sozinho, à noite,
Desprazer encontro eu lá
Minha terra tem sujeiras
Que até matam o sabiá

Minha terra tem horrores
Que tais desencontro eu cá
Em chorar, sozinho, à noite
Desprazer encontro eu lá
Minha terra tem sujeiras
Que até matam o sabiá.

Não permitas Deus que eu corra,
Nem que eu volte para lá
Nem que encontre os horrores
Que tais desencontro eu cá
Nem qu'inda sinta as sujeiras
Que até matam o sabiá.



“Homenagem” à realidade:

Poluição é tão perigosa para a saúde quanto o tabagismo
20/08/09
Uma boa parcela dos não-fumantes que vivem em São Paulo apresenta o pulmão tão comprometido quanto o de pessoas tabagistas, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
A poluição ambiental na cidade se tornou um fator de risco para os eventos cardíacos, da mesma forma que o fumo, a obesidade e o excesso de colesterol no sangue.
Segundo o presidente da SBC, Antônio Carlos Palandri Chagas, o coração mata 300 mil brasileiros por ano.
- Para nós, médicos, é tão importante combater as queimadas na Amazônia e preservar a qualidade da água dos mananciais, como controlar os níveis de poluição nas grandes cidades-, afirmou o especialista no Fórum de Discussão sobre as Doenças Cardiovasculares e o Meio Ambiente, realizado este mês em São Paulo.
Uma pesquisa feita pelos cardiologistas com 228 voluntários no vão livre do Museu de Arte de São Paulo mostrou que a poluição do ar pode ser tão perigosa quanto o cigarro é para os fumantes - apenas 20% dos não-fumantes apresentaram resultado negativo para a presença de monóxido de carbono nas hemoglobinas, ou seja, um pulmão completamente limpo.
Os resultados da pesquisa acompanham os dados de hospitais da cidade, cujos Prontos Socorros registram sensível aumento do número de atendimentos por problemas cardíacos nos dias do inverno em que se atinge picos de poluição atmosférica.
Os cardiologistas defendem uma maior atenção do ministro da Saúde para a poluição ambiental, considerando-a como um fator de risco para doenças cardíacas e pulmonares, assim como a hipertensão, o sedentarismo e o estresse.

www.jusbrasil.com.br/politica/3344390/poluicao-e-tao-perigosa-para-a-saude-quanto-o-tabagismo

Parques têm excesso de metais pesados
17/05/2009 - 09h50
São Paulo - A poluição dos carros ultrapassou a escassa barreira verde da cidade e contaminou os redutos paulistanos considerados imunes. Um estudo divulgado neste mês detectou que solos de parques, em especial os que ficam no centro, estão contaminados por metais pesados, como chumbo, arsênio, cobre e bário, em concentrações que extrapolam, em alguns casos, até duas vezes os padrões seguros estabelecidos pelo governo paulista para não prejudicar a saúde.
A longo prazo, a contaminação por metais pode resultar em vômitos, diarreias, tonturas e, em casos extremos, até câncer. A análise foi feita com amostras colhidas de playgrounds e pistas de corrida de 14 parques de São Paulo. Todos apresentaram pelo menos um dado de metal em desacordo.
"Os piores índices estão nos parques mais próximos ao centro, onde há tráfego intenso de veículos, os grandes responsáveis pela concentração de metais", afirma a autora do estudo, Ana Maria Graciano Figueiredo, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares, que fez a análise com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Um dos piores cenários está no Parque Buenos Aires, em Higienópolis, zona oeste. A concentração de chumbo foi de 400 mg/kg, sendo que o parâmetro da Cetesb é de 180 mg/kg (2,2 vezes mais). Parques do Ibirapuera, Aclimação, da Luz e Trianon também estão em alerta com chumbo, arsênico e cromo.
As crianças e os cachorros são mais suscetíveis ao problema, explica o coordenador de pós-graduação do Departamento de Microbiologia da USP, Mario Julio Ávila-Campos, por causa do contato mais próximo ao solo. "Mas o risco para quem vai aos parques, ainda que diariamente, é difícil de ser mensurado", diz. "Quando o organismo fica saturado de metais, responde com tontura, desequilíbrio, diarreias, sintomas que as pessoas dificilmente vão relacionar à contaminação por chumbo, arsênio ou outro (metal)."
Especialistas dizem que não há motivo para pânico, mas é preciso alerta das autoridades públicas. "No Brasil ainda é muito recente essa preocupação com os metais. Para contato esporádico ainda faltam pesquisas que comprovem os perigos", opina Luiz Roberto Guilherme, pesquisador do Departamento de Ciência do Solo da Universidade Federal de Lavras.
Se ainda existem dúvidas sobre o alcance da contaminação, já há certeza de que os carros são os "vilões" do acúmulo dessas substâncias, até mesmo nos solos dos parques. "A dispersão desses materiais é por meio do escapamento, tanto que, quanto mais perto das vias públicas, maiores são os índices", diz a engenheira florestal do Laboratório de Poluição da USP Ana Paula Martins, que encontrou os materiais em excesso até nas cascas de árvores de cinco parques da cidade.

noticias.uol.com.br/ultnot/agencia/2009/05/17/ult4469u41361.jhtm

As freiras feias sem Deus
LUIZ FELIPE PONDÉ
COLUNISTA DA FOLHA
O QUE MOVE as pessoas, em meio a tantos problemas, a dedicar tamanha energia para reprimir o uso do tabaco? Resposta: o impulso fascista moderno.
Proteger não fumantes do tabaco em espaços públicos fechados é justo. Minha objeção contra esta lei se dá em outros dois níveis: um mais prático e outro mais teórico.
O prático diz respeito ao fato de ela não preservar alguns poucos bares e restaurantes livres para fumantes, sejam eles consumidores ou trabalhadores do setor. E por que não? Porque o que move o legislador, o fiscal e o dedo-duro é o gozo típico das almas mesquinhas e autoritárias. Uma espécie de freiras feias sem Deus.
O teórico fala de uma tendência contemporânea, que é o triste fato de a democracia não ser, como pensávamos, imune à praga fascista.
A tendência da democracia à lógica tirânica da saúde já havia sido apontada por Tocqueville (século 19). Dizia o conde francês que a vocação puritana da democracia para a intolerância para com hábitos "inúteis" a levaria a odiar coisas como o álcool e o tabaco, entre outras possibilidades.
Odiaremos comedores de carne? Proprietários de dois carros? Que tal proibir o tabaco em casa em nome do pulmão do vizinho? Ou uma campanha escolar para estimular as crianças a denunciar pais fumantes? Toda forma de fascismo caminhou para a ampliação do controle da vida mínima. As freiras feias sem Deus gozariam com a ideia de crianças tão críticas dos maus hábitos.
A associação do discurso científico ao constrangimento do comportamento moral, via máquina repressiva do Estado, é típica do fascismo. Se comer carne aumentar os custos do Ministério da Saúde, fecharemos as churrascarias? Crianças diagnosticadas cegas ainda no útero significariam uma economia significativa para a sociedade. Vamos abortá-las sistematicamente? O eugenista, o adorador da vida cientificamente perfeita, não se acha autoritário, mas, sim, redentor da espécie humana.
E não me venha dizer que no "Primeiro Mundo" todo o mundo faz isso, porque não sou um desses idiotas colonizados que pensam que o "Primeiro Mundo" seja modelo de tudo. Conheço o "Primeiro Mundo" o suficiente para não crer em bobagens desse tipo.
O que essas freiras feias sem Deus não entendem é que o que humaniza o ser humano é um equilíbrio sutil entre vícios e virtudes. E, quando estamos diante de neopuritanos, de santos sem Deus, os vícios é que nos salvam. Não quero viver num mundo sem vícios. E quero vivê-lo tomando vinho, vendo o rosto de uma mulher linda e bêbada em meio à fumaça num bistrô.

www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0708200904.htm
Joseph Shafan
Enviado por Joseph Shafan em 27/08/2009


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